Por que juros altos no Brasil estão derrubando o dólar e animando a Bolsa?
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A Bolsa de Valores brasileira e o mercado de câmbio têm hoje pouca oscilação.
No curto prazo, a tendência é de que o dólar continue se desvalorizando ante o real e de que o Ibovespa, principal índice acionário local, siga em alta devido à perspectiva de que os juros no Brasil vão se manter por um longo tempo no atual patamar de 14,75% ao ano, o mais alto desde 2006.
O que está acontecendo
Por volta de 14h, o Ibovespa estava perto da estabilidade, com leve queda de 0,02%, a 139.607 pontos. Os negócios na Bolsa brasileira têm início às 10h. Desde 7 de maio, o índice acumula alta de 4,5%, batendo vários recordes seguidos de pontuação.
Perto do mesmo horário, o dólar comercial subia 0,26%, vendido a R$ 5,670. O turismo avançava 0,28%, vendido a R$ 5,885. Desde o último dia 7, a cotação comercial perdeu 12 centavos, ou 1,43%, e o turismo perdeu 13 centavos, ou 1,6%.
Os analistas esperam que esses movimentos de desvalorização do dólar se mantenham, com a aposta de que a taxa Selic continuará no atual patamar por algum tempo. Em 7 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa básica de juros da economia, que estava em 14,25% ao ano, em 0,5 ponto percentual. O objetivo é controlar a inflação. Embora o BC tenha deixado em aberto as suas próximas ações, a sensação dos investidores era de que no máximo haveria mais uma elevação de 0,25 ponto percentual antes de a autoridade monetária encerrar o ciclo atual de aumentos. Ontem, o presidente do banco, Gabriel Galípolo, referendou essa percepção ao dizer que faz sentido manter os juros mais altos por mais tempo.
Com os juros altos, grandes investidores internacionais migram seus recursos para aplicações de renda fixa no Brasil. Ao entrar no mercado nacional, são obrigados a trocar os dólares pelo real, o que faz a moeda americana se desvalorizar.
Juros altos são negativos para as Bolsas de Valores em geral, que ficam menos atrativas em relação à renda fixa. Mas a sinalização de Galípolo de que não haverá novos aumentos da Selic dá um alívio aos investidores de renda variável, que podem refazer sua estratégia com mais previsibilidade.
Estrangeiros têm investido bastante na Bolsa brasileira este ano. Um levantamento do banco americano JP Morgan divulgado hoje mostra que o fluxo de capital estrangeiro na B3 é atípico, com R$ 20,8 bilhões ingressando desde 17 de abril — o melhor desempenho no acumulado do ano desde 2023.
Nas duas semanas seguintes ao Dia da Libertação, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou as tarifas de importação, cerca de R$ 10 bilhões saíram do Brasil. "Mas esses valores foram rapidamente revertidos até o final do mês, com a entrada de mais R$ 10 bilhões em maio", diz o estudo do JP Morgan. No acumulado do ano, a entrada de estrangeiros na Bolsa é de R$ 15 bilhões, excluindo a venda de ações da Vale (VALE3) pela Cosan (CSAN3). Esta é a melhor marca para o período desde 2023.
Os investidores deixaram mercados asiáticos, como a China, e foram em massa para a América Latina, diz o JP. Países como o Brasil estão mais distante do foco da briga comercial. Entretanto, divulgou o banco americano, com a trégua entre China e EUA, pode haver uma acomodação da Bolsa por aqui. "Acreditamos que os mercados latino-americanos subiram muito rápido e que um momento de consolidação está chegando", relatou o banco.
Ações que mais sobem
Apesar da gripe aviária, as ações de empresas ligadas ao mercado de carnes lideram as altas hoje. JBS (JBSS3) tinha a maior valorização do Ibovespa, com salto de 5,26%, para R$ 42,20, BRF (BRFS3) subia 3,95%, a R$ 21,31, e Marfrig (MRFG3), 3,71%, para R$ 24,33. "Tudo isso reflete a possibilidade do aumento da exportação do Brasil para a China, por conta do corte da taxa de juros que o país oriental aplicou nesta noite", diz Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain.
A China cortou a sua taxa básica de juros pela primeira vez em sete meses. O Banco Central chinês baixou o juro de 3,1% ao ano para 3%, buscando maneiras de estimular a economia. A pequena desvalorização do real hoje também ajuda essas empresas, segundo Virgílio Lage, especialista da Valor investimentos, já que todas elas são exportadoras de carne.
Das três, a BRF é a mais atingida pela suspensão das importações de frango por vários países por conta da gripe aviária. Hoje, o governo brasileiro pediu à China que reveja o embargo nacional de carne de frango brasileira e restrinja a suspensão das importações ao município gaúcho de Montenegro, onde foi detectado o foco da gripe aviária.
Quedas
As empresas de educação Cogna (COGN3) e YDUQS (YDUQ3) tinham as maiores baixas no horário. COGN3 desvalorizava 8,12% para R$ 2,83 e YDUQ3 perdia 6,4%, para R$ 14,76 depois de divulgadas ontem as novas regras para o ensino a distância. Para o BTG Pactual, o novo marco tende a ser negativo para o setor, entre outras razões, porque aumenta os custos em um segmento que historicamente tem tido dificuldades em repassar a inflação de custos para as mensalidades.
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